Friday, December 13, 2019
despachada: Northern Exposure
Não se volta a onde se foi feliz.
É uma velha máxima, é certo, mas cada vez a sinto mais presente. Esqueçamos que é quase exclusivamente por causa de filmes e séries antigas. Assumamos que é por causa disso e duma data doutros motivos importantes. Não queremos que passe por um cavalheiro desinteressante e até algo fútil.
Northern Exposure (NEx) é daquelas coisas que guardava com carinho na minha memória. Lembro-me de estar na sala, a partilhar a série com o meu velho, a ver episódios soltos que íamos apanhando na TV. NEx parecia ser uma série acima das outras da altura. Algo feito com pés e cabeça, cheio de mensagens e ideias à frente daquele tempo. Infelizmente, aos olhos de hoje em dia, falha em muitos aspectos.
«Continuidade» é uma palavra cara e desconhecida, por exemplo. Entendo. Era como as coisas eram feitas então. Juntava-se a equipa de guionistas numa sala mais para distribuir episódios do que discutir os objectivos gerais. Se é que havia sequer uma reunião presencial. O mais provável era tudo ser feito à distância. Mas desde relacionamentos cuja progressão, ou sequer exististência destes, varia de episódio para episódio, ou mesmo só estações do ano que vão variando, consoante a necessidade, passando por familiares que desaparecem sem deixar rastro, vê-se um pouco de tudo. Quase todos os episódios são independentes e há erros gritantes, para quem decidir ver tudo seguido.
Assuntos «delicados». Acredito que NEx que fosse das séries mais progressistas. Hoje em dia falha em quase todos os aspectos. Mulheres são clichês e questões raciais são abordadas com o tacto dum elefante num espaço reduzido. Basta olhar para o elenco muito, mas muito caucasiano, numa terra cheia de cultura indígena. Aliás, os personagens nativos são usados a belo prazer, consoante as necessidades dos enredos principais (entenda-se, «brancos»). Tudo muito constrangedor.
As personagens e os assuntos eram tratados com bastante inteligência... aos olhos dum adolescente na década de 90. Desta feita vi uma data de gente execrável, a quem não confiaria um cacto moribundo. Tudo malta egoísta, que só vê o seu, em detrimento da comunidade. O que é irónico, porque a grande premissa era precisamente um jovem médico citadino descobrir a beleza duma comunidade mais pequena. Há um episódio em que isso é para lá de notório. Sendo certo que o personagem que dá o mote para a existência desta série (o tal médico que vem da cidade grande) é um palerma que insulta todos os que o rodeiam, tratando-os como pacóvios provincianos, nada justifica como foi tratado, a certo momento. Ele tem a obrigatoriedade de trabalhar naquela terra, de cujo estado pagou-lhe os estudos. Mas também é verdade que com esse trabalho vêm direitos, nomeadamente a ter férias. Quando estas são canceladas mais uma vez, o médico entra em greve. É recurso de notório desespero, vindo do cansaço de quem não parava há meses. Que faz a comunidade? Vira-se contra ele, chegando ao ponto dele passar a noite na rua... no Alaska! É um estado pouco conhecido pelas noites amenas, convenhamos.
Nem tudo foi mau, atenção. Continuam a haver alguns episódios com toques de genialidade, na fantasia em que são construídas as cenas. Mesmo aos olhos de hoje em dia. Isso marcou-me então e continuei a ver desta feita. Mas não consigo recomendar NEx a ninguém, infelizmente. Percebo agora porque a série não se encontra em nenhum serviço de streaming actual.
PS - Apenas como desabafo. Não acrescenta nada ao que já disse e até spoila o final. Mas ter a O'Connell a juntar os trapos com o Chris, quando nada a isso apontava e andámos nós a levar com demasiados episódios do «vai não vai» entre ela e o Fleischman... Epá, é cuspirem na cara do espectador! Entendo que não fizesse sentido ficar com o Fleischman, mas que ficasse sozinha. Qual era o necessidade de a emparelhar com alguém?
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