Sunday, March 27, 2022
despachada: Star Wars: The Clone Wars
Andava a ver esta série há bastante tempo. Talvez mais dum ano. O início não me agarrou. Era mais da parte secante das prequelas. Politiquices e lutas que não faziam qualquer sentido. Diria que as duas primeiras temporadas demoraram maior parte do tempo. Depois a coisa acelerou, muito há custa de Mandelorian, Bobba Fett e das ligações entre tudo. As últimas três temporadas devorei-as num instante. Duas, talvez três semanas. A última foi-se num par de dias.
A última temporada surge meia dúzia de anos depois da anterior. Os episódios estavam em produção quando a série foi cancelada, em 2014, já pela Disney. O «monstro» sabia do potencial e qualidade de Clone Wars, mas não queria que o seu sucesso beneficiasse terceiros. Natural. A última temporada serve assim para fechar o período entre Ep. II e III, mas também para introduzir projectos futuros. Para mim, o que fica muito presente foi ver mais um lado do fatídico dia da Ordem 66, desta feita pelos olhos da personagem incrível que se tornou Ahsoka Tano.
Da mesma forma que Clone Wars serviu para tornar mais verosímel e completa a transição de Anakin, do lado bom para o lado mau da força, também eu passei por uma transição. Passei de tipo que gosta de Star Wars (fã da trilogia original, do resto «acho fixe»), para o tipo que vê vídeos sobre a história de personagens secundários de séries spin-off de animação. Ando um nerd de Star Wars autêntico. E não ajuda que ande a comprar roupa interior com a tromba dos stormtroopers.
Isto foi o pormenor importante de ver Clone Wars. Não a roupa interior. O universo expandiu. Os nove filmes são sobre os Skywalkers. E a verdade é que a família não é assim tão interessante. Às tantas fartámo-nos da novela. Ou melhor, pensávamos nós que estávamos fartos da novela, quando na verdade estávamos fartos dos mesmos personagens, que no meio duma galáxia (que tende a ser uma área relativamente grande) estavam sempre em todo o lado e metidos em tudo. Acabou por tornar-se algo estapafúrdio. Clone Wars começa focado nos mesmos Anakin e Obi Wan, mas depois dá-nos Rex, Fives e tantos outros clones, dá-nos Ahsoka (obrigado), Ventress, Bane, entre outros, mais os Mandalorians, com a sua mui rica história. E, de repente, Star Wars é tanto mais que três trilogias.
Agora vamos entrar nas teorias e um pouco na desconstrução dos Jedi e, em particular, do famigerado Yoda. Isto não vai ser fácil de explicar e até é demasiado longo, mas estou em modo «falar de nerdices», por isso temos pena. Os meus primeiros pensamentos, ao ver Clone Wars, foram acerca dos cargos dados aos Jedis e mesmo ao Sith. Achei tudo exagerado. Os Jedi são «generais» e os Sith «Supreme Leaders». Que parvoíce. Quem é que deu estes cargos a palermas que aparecem do nada? Muita gente na galáxia nunca viu, ou acredita sequer, nos Jedi, por exemplo. Claro que, parando depois para pensar, tinha ouvido estes cargos nos filmes. Não era novidade. Então porque fez-me confusão desta feita? Foi um pouco porque há muito mais batalhas e interacção entre os Jedi e o exército de clones. E não é só o Anakin, o Obi Wan ou o Yoda. Há mais Jedis a comandar. Mesmo percebendo que não era só uma coisa da série, mesmo sabendo que já tinha ouvido tudo isto antes, continuava com uma sensação de desconforto. Que se calhar também tive nas prequelas e não me recordo, ou não me apercebi. Foi muito confuso e distraía-me demasiado do resto da acção.
Até que vi este vídeo do Screen Crush, que destruiu a visão que tinha. De tudo! A culpa da guerra, do fim duma era, dos Sith ganharem e do Império existir, é tudo culpa dos Jedi. Em especial (e atenção que isto é particularmente polémico) do Yoda. O Yoda é o culpado de tudo! O vídeo explica muito melhor do que eu alguma vez conseguirei aqui por escrito. Mas a verdade é que os Jedi eram peace keepers. Uma espécie de monges que, se fosse necessário, intervinham para defender os inocentes de meliantes. Esta é a palavra fulcral: defender. Não «atacar», «liderar», «arquitectar» ou «lutar». Os Jedi não são suposto ser generais de guerra. São suposto ser mestres da força, uns com o universo e todas as suas criaturas. Foi o Yoda, enquanto líder dos «monges», que decide ser a liderança das tropas da República. Foi uma distração que estupidamente aceitou, que permitiu ao Imperador fazer o que queria nas suas costas, e criar o Império. Há demasiado momentos em que Yoda foi avisado (do chip nos clones e que foram os Sith a encomendá-los; do Anakin a pender para o lado negro; por uma padawan que disse, com todas as letras, que era errado o que estavam a fazer; pelo fantasma do Qui-Gon!) e o marreta verde ignorou tuuuuuuuuuuuuuudo. Por ego. Porque queria ganhar a guerra. Por egoísmo. Porque não queria voltar atrás na decisão errada que tomou no início.
Atenção que isto não me faz odiar os Jedi e nunca, mas nunca, conseguirei não gostar do Yoda. Esta maneira de ver as coisas não estraga em nada a forma como vi e vejo as trilogias. Simplesmente dá-lhe mais volume, mais camadas. São humanos. Quer dizer, o Yoda não. Nem se sabe bem o que é o Yoda. O que quero dizer é que são criaturas sencientes, capazes de grandes feitos, mas também de erros graves. A verdade é que esta nova percepção só faz com que queira ver os filmes outra vez, com novos olhos. Que queira e que ande a ver todas as séries de animação que estão na Disney+. Que queira devorar tudo o que existe sobre a galáxia, que existe far far away.
Que seja bem claro, independentemente de ver agora que o Yoda não é assim tão esperto, may the force always be with us. Ou pelo menos comigo. Vocês façam o que quiserem da vossa vidinha. Toda a gente é livre para escolher o que ache o melhor para si. Mesmo o Yoda pode escolher não tornar o Anakin mestre e, também com isso, criar um dos maiores vilões da história. Cada um sabe de si.
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