Saturday, March 27, 2021

despachada: Superstore


São mais de 40 as séries que acompanho. Algumas sabe dEUS quando terão nova temporada mas, enquanto não forem oficialmente canceladas, estão na minha lista. Tenho tentado reduzir. Sei que vejo demasiada coisa. Alguma não vale a pena. Nos tempos que correm é difícil. Precisamente porque cada vez há menos estrutura. Aumenta o número de séries que passam quase dois anos (ou mais) sem episódios novos. Para colmatar, mais e mais novas séries são lançadas ao mundo, todas a lutarem pela sua quota de mercado. O Netflix então é um exagero. O objectivo é lançar temporada atrás de temporada de novidades. Cada vez menos interessa-lhes ter boas séries no canal. Querem é conteúdo novo. Todas as semanas. Não recrimino, atenção. A nossa capacidade de dedicação reduziu. Estamos ao nível do mosquito. É normal que a estratégia assim tenha evoluído.

Tudo isto para dizer que, mesmo com 40 e tal séries na lista, não tenho nada que possa verdadeiramente recomendar, se alguém perguntar. Durante uns anos tive You're the Worst e Superstore, como as «hidden gems» televisivas. Foram séries que não tiveram metade da atenção que deveriam ter tido. Porque, na minha mui modesta opinião, estão vários pontos acima da média. Superstore era inteligente, adaptou-se de forma genial a tudo o que ia aparecendo no mundo real (foi das poucas que vi abordar a pandemia, como uma coisa de dia a dia), tinha coração e muito, mas muito talento, num elenco que se complementava e preenchia cada espacinho livre, durante os episódios, com humor e alguma loucura. Não foi só um conjunto de episódios individuais, com riso em lata. Teve pormenores que duraram desde a primeira à última temporada.

Para mim Superstore foi especial porque terá sido das últimas - ou mesmo a última -, série que comecei a ver na televisão, semanalmente. Aconteceu por motivos não muito bons. E sim, foi um oásis que permitiu-me sorrir, numa altura em que a vontade de o fazer não foi muita. Depois da visualização semanal (que tortura), revi tudo de enfiada. E apanhei mais uns tantos detalhes geniais. O plano que houve para o tornado, por exemplo. Estava tudo previsto. Comentários que não ligávamos nenhuma, coisas soltas num ou outro episódio, tinham o culminar muito mais tarde. Genial!

A série teve um boost com o movimento Me Too. Porque Ferrera fez parte e, como tal, levou a que mais pessoas prestassem atenção ao que estava a fazer, à sua série. Não sei até que ponto foi bom. O canal ter-se-á habituado a outro tipo de números. Só que, como refiro acima, as pessoas têm a atenção duma criança. Os números eventualmente terão baixado. Não ajudou a que Ferrera saísse da série, para fazer... outras cenas (não faço ideia que anda a fazer). Regra geral quando um personagem principal sai é morte certa da série.

Foi o caso. Superstore teve direito a uma última temporada, para fechar pontas soltas e dar um ar da sua graça num período muito conturbado. Mais uma vez voltou a trazer sorrisos onde pouca vontade de os ter havia. Deixa um grande vazio. A verdade é essa. Para mim e para muita gente. Procurarei sempre recomendar, quando alguém precisar.

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