Wednesday, June 29, 2022
despachada: Y: The Last Man
Veio tarde e a más horas.
Gostei e continuo a gostar bastante da BD, na qual esta série baseou-se. Reli há pouco tempo, precisamente em preparação para a série. Apesar de estar algo datada e ter o problema de ser uma história cheia de mulheres, escrita por um homem, continua a ter pormenores muito bons.
Yorick é o «último homem na Terra». Vaughan pegou nesta velha máxima, com que alguns homens sonham e que muitas mulheres usam para acabar com quaisquer expectativas, para criar uma história dum universo pós-apocalíptico, em que, certo dia, todos os homens morrem. Quase todos. Como lidar com uma situação tão extrema, em que metade da população deixa de existir? Quando foi escrito a realidade é que havia muitas profissões feitas maioritariamente por homens. Eu sei. É uma frase controversa de se dizer, hoje em dia. Era um facto em algumas áreas. A verdade é essa. Por exemplo pilotos de aviões. Maior parte eram homens. E uma das coisas trágicas que aconteceram, no fatídico dia, foi que muitos aviões, com demasiadas pessoas a bordo, despenharam. Fosse onde fosse. Sobre cidades ou sobre o mar. Tendo em conta o número de aviões no ar que existem hoje em dia, isto é uma noção aterradora só por si.
Os dias seguintes... Não consigo conceber. Entre ter de lidar com os milhões de cadáveres, o luto, a tristeza, o choque, e o ter de continuar com certas coisas, em esforço e sem conhecimento, como é possível continuar? De repente é preciso fazer manutenção de centrais nucleares e eléctricas, é preciso transportar materiais necessários, manter supermercados e outros estabelecimentos abertos, entre tantas outras coisas que damos como garantidas. Não é a questão de serem coisas que só homens sabem fazer. Uma mulher pode fazer tudo o que um homem faz. Que fique bem claro. Não é isso. Imaginemos qualquer local de trabalho, onde há trabalho para dez pessoas. Mesmo que seja um local com sete mulheres e três homens. De repente há trabalho de dez para sete, que tem de ser feito. E essas sete mulheres estão a lidar com a perda drástica dos respectivos maridos, filhos, netos, sobrinhos, amigos, enteados, pais, avôs...
Sobre a série, creio que teve um azar tremendo com o timing. Primeiro porque já não faz sentido uma ideia em que se, de repente, os homens desaparecerem, as mulheres entram em pânico e só fazem m€rd@. Todas são mais que capazes de manter e continuar com a sociedade.
A mim, por exemplo, fez confusão a falta de comida. Há mulheres para transportar a comida em camiões, camionetas ou carros. Há mulheres com quintas, com empresas de produção alimentar. Há bancárias e informáticas para manter a parte dos pagamentos a funcionar. Nem que seja temporariamente, em estado de emergência. E se há comida, mesmo que rés vés, para homens e mulheres, então tem de haver comida para metade da população por algum tempo. Ainda há pouco tempo vi um vídeo em que um fazendeiro explicava que tinha um silo cheio de cebolas, que davam para o ano todo. Agora, cebolas apenas não chega para alimentar alguém durante muito tempo, mas como este exemplo haverá outros.
Segundo, o COVID lixou o sucesso que a série pudesse ter. Era um assunto demasiado próximo do que estávamos a viver. Caos numa sociedade. Quando estreou foi uma história demasiado próxima da realidade e o pessoal acusou o toque. Ainda devido ao adiamento da produção, os contratos com os actores entretanto terminavam e ficou caro demais renovar, tão cedo, com uma temporada que mal tinha saído e não tinha garantias de sucesso.
Por fim, sinto que houve alterações que pouco sentido fizeram, face à BD. É uma opinião apenas, mas a verdade é que demorámos a ter personagens por quem estivessemos a torcer. Quase todos eram irritantes ou idiotas, e uma crise a escala mundial não justificou todos os comportamentos ou decisões. Mais, quiseram manter a típica narrativa norte-americana, de ter episódios de encher e só ter verdadeira emoção ou conflito, em poucos momentos. O final é interessanto, por exemplo, mas demoraram demasiado tempo a chegar ali. O primeiro episódio agarra porque tem a grande cena a acontecer, mas depois disso são demasiados episódios morosos.
Foi pena. Fiquei excitado com a potencial da série, quando foi anunciada. Talvez estivesse fadada ao insucesso. Mais que uma sociedade sem homens. Teve azar com a pandemia no mundo real. Mesmo assim a execução deixou algo a desejar.
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