Saturday, February 18, 2023

despachada: Reboot


Uma das primeiras tentativas falhadas desta época. E tenho pena, porque o elenco é divertido o suficiente para fazer algo de jeito, se lhes fosse dada a possibilidade. Mas mais do que discutir os méritos ou deméritos de Reboot, não consigo deixar de pensar na mudança de paradigma, e a demorada adaptação a esta, que ainda trará muitas mais «vítimas» de cancelamentos precoces.

Reboot tinha Keegan-Michael Key, Judy Greer e Paul Reiser como os nomes mais sonantes, mais Knoxville e Rachel Bloom para apelar a nichos. Há ainda meia dúzia de malta talentosa, que ajuda e muito a dar profundidade a qualquer elenco. É uma série criada por Steve Levitan, que vem do sucesso tremendo que foi Modern Family. A série é lançada na plataforma Hulu, que permite-lhes ter uma série mais adulta, capaz de dar mais do que apenas umas risadas em família. E permite ainda chegar a muita gente, através de Hulu nos states e Disney+ na Europa e afins. Tem tudo para correr bem, certo? Errado.

Porquê? Bem, no meu entender passa por números. Levitan elevou a fasquia com Modern Family. Qualquer estúdio ou canal está à espera que traga um número elevado de espectadores, só porque é ele. Logo, o número do seu salário será elevado. Assim como os salários de alguns membros do elenco. A Reiser precisam de convencê-lo para tirar o cu do sofá. Como o seu personagem diz na série, é «demasiado velho e demasiado rico» para fazer certas coisas. Mas voltando às audiências, começa a ser cada vez mais difícil chegar aos «bons» números de outrora. E atenção que falamos apenas de audiências dos Estados Unidos. Continuam a ser apenas essas que interessam. Não estou a ver nenhum estúdio a querer continuar uma série só porque tem sucesso na Europa e/ou na América Latina, por exemplo. Dantes havia menos canais, menos alternativas e muito, mas muito menos séries. A atenção agora é super dividida. Não há seis séries com dez milhões de espectadores cada. Há 120 com meio milhão cada.

E mais, dantes víamos o que dava na TV. Todas as várias coisas. Hoje em dia vemos uma série inteira em exclusivo. Temporadas após temporadas, tudo de enfiada. Eu, que vejo muita (demasiada?) coisa, ainda há uns tempos pus-me a ver Americans e pouco mais vi para além disso. A forma de ver conteúdos mudou. Ou, pelo menos, está a mudar. A forma de criar conteúdos é que ainda não se adaptou. Especialmente a mentalidade desta malta, que acha que lançar uma série em serviço de streaming é o mesmo do que lançar num canal de TV. Claro que acontece haver um visionamento semanal com fenómenos pontuais. É complicado não ver todas as semanas os novos episódios de House of the Dragon ou Last of Us, dando exemplos da HBO. Ou ver tudo num fim-de-semana de Stranger Things. Porque, mais que não seja, a Internet e a malta no escritório não falam doutra coisa. Mas ninguém tem a necessidade de ver semana a semana Reboot. Isto é a série que começamos a ver quando procuramos algo para preencher os espaços da semana. Vemos dois ou três episódios numa noite e, se calhar, depois passamos o resto da semana sem ver nada. Vemos com gosto, atenção. Só não há é urgência. 

Para que séries como Reboot vivam algum tempo (ênfase no «algum» e não na eternidade que foi Modern Family, por exemplo), é preciso mudar a mentalidade. As séries têm de ser vistas como criação de catálogo. Para que um utilizador, ao procurar um serviço de streaming, seja convencido pelas várias opções disponíveis. É isto que fará um serviço de streaming ser bom, e não apenas ter a série da moda desta semana.

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