Sunday, July 31, 2022

despachada: Friday Night Lights


- Mr. Street, do you think God loves football?
- Everybody loves football.


Isto é que foi um despachanço à séria. A série tem alguns anos. Estou para a ver desde que saiu. Mas quando comecei, foi d'enfiada. Acho que em menos duma semana. Cinco temporadas. 76 episódios de 40 minutos. 50.000 vezes que ouvi «Tim Riggins». Algumas só «Tim» e outras só «Riggins». Embora umas poucas destas fossem para o irmão. Mas quase sempre «Tim Riggins». Como se impõe, tendo em conta.

Muito há para explanar sobre FNL. Não vou falar de tudo, mas admito que foi uma série que deu-me gozo ver e embaçar. Eu que tenho andado constantemente a dizer que binging não é uma boa forma de ver uma série, com FNL binging foi a forma perfeita. Agora, se é ou não uma boa série. Eu diria que não. É uma série muito, mas muito «estado-unidense». Basta ver o diálogo acima, tido durante uma visita a uma escola, por parte da equipa de futebol do secundário(!), entre um miúdo pequeno e a estrela da equipa, o quarterback (claro!). A pergunta foi feita mesmo antes de começarem uma oração em conjunto. Depois disso há os tradicionais episódios, que resolvem em 40 minutos os problemas de: racismo; violência no seio familiar; bullying; drive by shootings; pro choice / pro life; vício de drogas; etc. Tudo na tradicional maneira de tornar a série relevante, aos olhos do espectador.

Não se fala em alcoolismo, atenção. E não vemos drogas pesadas de forma flagrante. Há uma mãe drogada, que fica bem com uma ida a um centro de reabilitação, entre episódios. E apenas um adolescente «viciado» em erva, mas que o fazia noutro estado. Para além de que nunca vemos casos sérios de violência doméstica. Ou tiroteios em lado algum, apesar de vários adolescentes terem acesso a armas. E sim, a coisa é muito mais virada para pro life do que a outra opção. Porque não vemos nada disto? Porque não são assuntos abordados na série? Porque isto é Texas! E no Texas não há nada desses problemas que os estados liberais têm. No Texas toda a gente bebe, mas ninguém é viciado ou tem problemas com o álcool. Ninguém bate na mulher quando a equipa perde. Não há acidentes de carro. Não há tiroteios nas escolas. E não há nunca miúdos a fumar ganzas. Tudo muito másculo, sério, familiar e wholesome.

Texas, y'all!

Sobre o «futebol» em si, o assunto cedo deixa de ser relevante. Na primeira temporada quase que há um jogo por episódio, com todas as preocupações e problemas que daí advêm. Mas depois disso é muito mais o drama individual e colectivo à volta do futebol. E quanto mais avançamos nas temporadas, mais «à volta» se tornam. Convenhamos que, apesar de todo o alarido que esta gente faz sobre o desporto, são apenas dez jogos por época, mais a possibilidade de três ou quatro com os playoffs. Em cerca de cinco meses, entre Agosto e Dezembro. É ridículo. E este foi o meu primeiro pensamento, que é um problema enorme nos EUA, muito discutido por lá. As escolas públicas têm dificuldades gigantes de orçamento, mas aqui temos um programa desportivo com staffs e equipas numerosas, que trabalha apenas metade do ano lectivo, para muitos poucos jogos. De onde vem o dinheiro para uma coisa destas? É absurdo pensar nisto sequer.

Não vos maço mais com esta série. Que não é para todos. E que simplemente não recomendo, a não ser que se procure um guilty pleasure. Termino falando sobre o elenco. Muita gente aqui tornou-se bem conhecido e tem óptimas carreiras, hoje em dia. Fico particulamente contente que o meu «pedido», ao ver o filme que deu origem a esta série, foi satisfeito, e a personagem da Connie Britton teve aqui o destaque e relevância que a actriz merecia. Há apenas um problema sobre o elenco, uma embirrância, que é comum a muitos outros filmes e séries que passam-se em liceus: havia algum actor que fosse efectivamente adolescente durante as filmagens desta série?

Clear eyes, full hearts...

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